segunda-feira, 8 de outubro de 2012

DESAFIO PARA O PT


Prof. Dr. Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque
O governo vem atuando em várias frentes para tentar reaquecer a economia brasileira. A oferta de crédito pelos bancos públicos cresceu, os empréstimos do BNDES foram fortemente ampliados, houve alívio tributário na casa de R$ 50 bilhões e as compras governamentais foram incrementadas em mais de R$ 8 bilhões. Mesmo com todos esses estímulos o PIB deve fechar este ano com crescimento em torno de 1,5%, índice que o ministro Guido Mantega classificou como “piada” ao ser estimado, quatro meses atrás, pelo banco Credit Suisse.
Medidas paliativas não servem mais para estimular a economia brasileira. A questão hoje passa pelo aumento da produtividade e a presidente Dilma Rousseff vem discursando nesse sentido. Tudo indica que o governo se deu conta de que está muito caro produzir no Brasil. Fica cada vez mais difícil o País competir. Importar tem sido a saída para muitos setores. Dez anos atrás os importados representavam 10% das vendas de bens industrializados e hoje eles são 22%.
Para melhorar a capacidade de competição da economia brasileira é preciso atacar entraves que há anos são empurrados com a barriga. A baixa qualificação da mão de obra, o nível inadequado de investimentos em pesquisas, a absurda burocracia imposta às empresas, a deficiente infraestrutura e o custo trabalhista são obstáculos estruturais que foram contornados com medidas paliativas que servem para fazer barulho no intuito de promover interesses políticos, mas que não equacionam os problemas.
Para se ter uma ideia da dimensão dos obstáculos na área da qualificação da mão de obra vale citar que as pessoas com ensino universitário com idade entre 25 e 34 anos na Coréia do Sul chegam a 60%, no Chile são 30%, no México 20% e no Brasil representam apenas 10%.
Quanto à ciência a situação também é vexatória. Os investimentos em pesquisa em relação ao PIB somam 3,5% no Japão, 3,2% na Coréia do Sul, 1,5% na China e 1% no Brasil.
No âmbito da burocracia as disparidades são absurdas. Abrir uma empresa no México requer 9 dias, na China são 38 dias e no Brasil são necessários 119 dias. Em termos tributários uma empresa no Brasil gasta em média 2600 horas por ano para ficar em dia com suas obrigações fiscais. O tempo médio na América Latina é de 382 horas e nos países da OCDE é de 186 horas.
A péssima infraestrutura brasileira faz com que a exportação de um contêiner custe US$ 2.250 no Brasil. Na Malásia o custo é de US$ 450, na China US$ 500 e no México US$ 1.450.
Quanto ao custo trabalhista, o País sofre com mais uma aberração. A mão de obra na indústria automobilística brasileira custa por hora 5,3 euros, no México o desembolso é de 2,6 euros, na China 1,3 euro e na Índia 1,2 euro.
Fica impossível para a economia brasileira competir com tantos entraves em um mundo cada vez mais globalizado. O PT tem um grande desafio para tornar a produção no País mais eficiente. Há pelo menos dez anos o governo não faz nenhuma reforma significativa com impacto positivo sobre o principal indutor da geração de riqueza que é a produtividade.
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Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas.

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